O mês que antecede o parto
No mês anterior ao parto, a ansiedade da gestante e, geralmente, da família toda pela chegada do bebê, associada ao desconforto físico do final da gravidez (barriga bem grande e pesada, dor na coluna, inchaço de pés e pernas, falta de posição confortável para dormir etc.) fazem a mãe querer mais ainda que o momento do parto chegue logo.
Contudo, as futuras mamães acabam se esquecendo de seguir um conselho antigo e, frequentemente, recebido pelas gestantes que é aproveitar para dormir e descansar antes da chegada do bebê. Algumas mamães ativas enfrentam dificuldades nesta reta final da gestação que envolvem desde a inaceitação da sua limitação física até a auto permissão para um cochilo no meio da tarde.
Embora o dia da chegada do bebê esteja próximo e, por vezes, os afazeres ainda sejam muitos, as gestantes precisam aceitar que já não podem realizar todas as tarefas, muito menos com a mesma rapidez que executavam antes da barriga estar avantajada. O barrigão impede que elas possam subir em bancos com a mesma segurança e equilíbrio e que executem movimentos, às vezes bem simples, como cortar as unhas dos pés. Além disso, faz com que se sintam mais cansadas, por vezes inchadas pelo peso que carregam, aliado à dificuldade de circulação do sangue. Em seu abdome, todos os outros órgãos são espremidos pelo útero aumentado e alguns têm seu funcionamento comprometido, causando azia, enjoo, falta de ar, necessidade de ir ao banheiro inúmeras vezes durante noite e dia etc.
Nosso corpo, retrato fiel da natureza, nos indica que talvez este seja o momento de limitar as tarefas e dar lugar às necessidades da mãe e do bebê. Seria muito bom se a mamãe conseguisse simplesmente deitar e dormir no meio do dia. Descansar! Mesmo que isso signifique comprometer o restante do funcionamento da casa ou o atraso na entrega dos trabalhos, por exemplo.
Ali, dentro dela, há um ser terminando de ser formado, recebendo toda a nutrição de que ele necessita (alimento, oxigênio, segurança emocional) e depositando, de volta, tudo que não lhe serve mais e precisa ser liberado ou renovado. É a mãe, também funcionando como um grande filtro para o bebê. Nesse período, pode até faltar algo para a mãe, como cálcio ou ferro, mas, impressionantemente, ao examinar o bebê, muitos médicos atestam que ele está devidamente abastecido.
Não se julguem preguiçosas, futuras mamães!! Mesmo com a aparente baixa produção do lado de fora, lá dentro, o trabalho é contínuo e árduo. Tornem-se conscientes disso a fim de se permitirem momentos de “preguiça” e descanso de seus corpos e mentes. Isso também é fundamental para o bom desenvolvimento do bebê! Uma mãe tranquila, descansada e equilibrada, emocionalmente, é fundamental para o desenvolvimento de um bebê sadio. E mais do que uma casa impecável, uma mãe supercompetente ou qualquer outra exigência que uma futura mamãe possa se impor, seu bebê necessita de uma mãe consciente, presente e tranquila.
Mudanças
Quando a hora chega, a grande mudança está para acontecer. Se até ali o bebê veio se desenvolvendo de forma tranquila, de maneira que a mãe tenha podido continuar a cumprir toda a sua rotina diária, normalmente, sem alterações consideráveis de humor, ansiedade ou estresse, a partir do nascimento essa mudança será sentida. A começar pelo simples fato de antes da ida para a maternidade saírem 2 integrantes de casa e retornarem em 3... (ou saem em 3 e voltam em 4 e por aí vai...). E ao retornar para casa com mais um membro na família, muitas mudanças se farão necessárias.
Geralmente, somente nesse momento as mães compreendem o conselho, sabiamente dado, de descansar e aproveitar para dormir enquanto o bebê estava na barriga. Porque a rotina de sono acaba sendo alterada pelas mamadas e/ou possíveis cólicas e trocas de fralda.
A arrumação da casa também pode ficar bastante comprometida com a chegada do bebê. Para facilitar o dia a dia atarefado das mamães, nos deparamos com trocadores, mamadeiras e fraldas espalhados em pontos diferentes e estratégicos da casa, uma almofada de amamentação horrorosa bem no meio da sala de estar, móveis e objetos de decoração começam a ser suspensos ou escondidos a fim de assegurar que o novo integrante da casa esteja seguro ali.
Devido a isso, nos casos em que o casal mantém alguma rigidez ou auto cobrança no sentido de manter o ambiente organizado da mesma forma que costumava ficar antes, seja pelo motivo que for, ainda poderá sofrer de mais momentos de ansiedade, estresse e/ou depressão.
Os horários todos se modificam, ajustando-se aos horários de mamadas e do soninho do bebê. Assim como as saídas do casal. Passam a ser escolhidos locais mais tranquilos, com infraestrutura mais adequada para a permanência e os cuidados do bebê. Com o passar do tempo são priorizados locais que possuem áreas destinadas às crianças, de forma que sejam combinados momentos de lazer de pais e filhos, na busca de minimizar o sacrifício de ambas as partes. Outros casais, escolhem abrir mão, temporariamente, de seu lazer em função do bem-estar do bebê. O que não pode deixar de ser considerado é o bem-estar psicológico de todos os envolvidos para que a escolha seja a mais adequada para cada família. Cada caso é um caso único, e a escolha mais acertada varia de acordo com isso. Permitam-se abrir mão de conceitos pré-definidos e de decisões ansiosas e precipitadas que não poderão ser modificadas no dia a dia do casal com base na cobrança rígida de ter decidido o “melhor” pelo seu filho. De nada adianta o casal abrir mão, radicalmente, de seus momentos de lazer, em nome do bem-estar do filho se algum dos pais se ressentir disso e isso significar alguma forma de prejuízo ao casal. Tudo deve ser analisado com calma, levando em consideração todos os fatores. Às vezes, mais vale expor uma criança a um ambiente barulhento e agitado do que a uma mãe, diariamente, deprimida ou estressada, por exemplo.
É muito legal quando as mães conseguem curtir essa fase que envolve muitas tarefas e cuidados com os bebês, tais como mamadas, sono, troca de fraldas, umbigo a cair, banho de sol, primeiras consultas, vacinas do bebê etc. E, também, com elas mesmas, como os cuidados com os seios, a limpeza e retirada dos pontos do parto, alimentação, sono etc.
Apesar de tantas coisas a fazer há mães que conseguem aproveitar o momento de ter seu tão sonhado bebê em seus braços e sentir prazer e satisfação nas tarefas diárias. Como por exemplo, poder contemplar as diferentes expressões do bebê durante uma mamada ou um sono gostoso que vai do biquinho de choro a um largo sorriso.
É um momento fascinante onde a mãe é tudo para o bebê! A responsável por identificar e saciar todas as demandas dele. E o vínculo materno se fortalece mais ainda aqui do lado de fora. A cada mamada, cada olhar e em cada momento onde a mãe se empenha em descobrir a causa do choro de seu bebê por exemplo. Será frio, fome, cólica ou qualquer outra coisa? Elas chegam a se tornar experts em reconhecer a necessidade de seu filho pela “qualidade” do seu choro em cada momento. Diferenciam, inigualavelmente, o choro de fome do choro de dor, por exemplo.
Há mães, que se sentem preenchidas e extasiadas nesse momento pós-parto. Alguns pais e demais filhos do casal chegam a se ressentir, pois ela passa a se dedicar quase que, exclusivamente, ao novo bebê. Parece que nada mais lhe interessa. Tal reação acaba gerando casos onde os irmãos mais velhos passam a adotar um comportamento atípico, tornando-se rebeldes, depressivos ou agressivos, alimentando na mãe uma necessidade maior ainda de resumir seu mundo a ela e ao novo bebê, que só demanda elogios e paparicos de sua parte. Em outros casos, vemos maridos se envolverem mais em seu trabalho ou ocuparem seu tempo com TV, jogos ou qualquer outra coisa que lhes ocupe a mente e lhes traga algum conforto naquele momento.
Complexidade
Muitas são as mudanças presentes nesse período pós-parto. Essas mudanças significativas e, por vezes, complexas, somadas à alteração hormonal, que ainda se mantém presente, e a muitos outros fatores sociais, culturais, genéticos e biográficos (como a bagagem de vida resultando em traumas e habilidades) vão fazer com que cada mulher sinta e reaja de forma diferente em cada gestação.
Há casos em que mães que sonharam com essa realização a vida inteira percebem não conseguir curtir o momento diante de complicações de ordem emocional ou física. Outras, portadoras de problemas psiquiátricos severos, relatam que apesar de necessitarem suspender ou diminuir suas doses de medicação, a fim de não afetarem o desenvolvimento do bebê, se recordam de terem vivido os momentos mais sãos e prazerosos de suas vidas. Percebemos assim que, infelizmente ou não, não há receita a ser seguida.
Não só as futuras mamães, mas também os que as cercam devem estar alertas para poderem lidar com isso de forma compreensiva e coerente. Lembrando sempre que essa é apenas uma fase que passará bem rápido e logo acabará. Poderá deixar saudade, frustração, alegria ou tristeza, dependendo da forma que foi vivida.
Permitam-se abrir mão de fazer e serem “perfeitos” e cuidem de fazer o melhor que puderem fazer enquanto pais. A única qualidade inexistente na maternidade é a de perfeição. As mães erram sempre! E posso afirmar mais. Erram, muitas das vezes, acreditando fazer o melhor para seus filhos.
Por isso, permitam-se ser mães com seus acertos e erros e ensinem seus filhos a serem falíveis também. Pois pior do que fazer errado, é não se permitir tentar por medo de falhar.
Ser mãe é se permitir ser quem é e ser um exemplo vivo para o seu filho de tudo o que você deseja que ele se torne um dia. Se você não pretende cobrar que seu filho seja perfeito, se pretende admitir seus erros e falhas e ensinar-lhe que o erro nada mais é do que uma tentativa equivocada de acertar, por que viver algo diferente disso? Seja complacente e generosa com você, para que seu filho amanhã possa fazer o mesmo com ele e com os demais.
Se notar que errou ao longo dessa caminhada junto dele, por que não lhe ensinar a forma adequada de se desculpar e reparar seu erro? Afinal, ser mãe envolve aprendizado para ambas as partes. E caso o seu erro não tenha como ser reparado, posteriormente, permita-se recomeçar e tentar modificar o rumo da sua história. Isso é permitido a todo instante. O ser humano é sábio e criativo. Precisa se permitir. Apenas isso.
*Daniele Vanzan é psicóloga e se especializou em Psicologia Jurídica. Fez a formação como Terapeuta de Vida Passada. Realizou o Curso Introdutório e o Introdutório Avançado de Gestalt Terapia com Crianças, ministrado por Luciana Aguiar. É autora do livro infantil Não consigo desgrudar da mamãe (Editora Boa Nova). O segundo livro, intitulado Eu sou o rei de todo o mundo”, está em processo de publicação foi lançado este ano na Bienal do Livro e aborda crianças que têm dificuldade de aceitar limites.
Pílulas
Envolvimento social
Não é difícil notar que com a chegada do bebê até o envolvimento social se modifica. O contato estreito com casais sem filhos vai dando lugar, muitas vezes, ao maior contato com casais que também têm filhos. Novas amizades acabam nascendo nos momentos de banho de sol, passeios, brincadeiras no parquinho e da fase escolar, por exemplo. E pela similaridade de interesses e proximidade nessa fase, as mamães acabam criando novos grupos de convivência visando sempre o bem-estar e interesses dos filhotes.
Angústia e solidão
Há casos nos quais as mães sofrem de angústia e solidão nos momentos em que se percebem cuidando sozinhas de seus bebês. O marido retornou ao trabalho e sua mãe e sogra, que a ajudaram nos primeiros dias, retornaram aos seus afazeres e vida diária. Elas relatam a sensação de estarem “prisioneiras” daquela situação. Queixam-se de carência afetiva, solidão, tristeza, raiva e/ou agonia. E apesar dos inúmeros cuidados que devem ter com o bebê e lhe ocupam o dia inteiro, percebem-se privadas de momentos sociais e de lazer.