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Terceira idade

     

 

O momento do “Ninho vazio”:

Considera-se que um dos primeiros grandes baques para um casal com filhos seja o momento onde seus filhos se emancipam e seguem a vida deles deixando a casa vazia, silenciosa e as vezes triste. Como lidar com este momento onde o casal fica sozinho novamente? Um momento em que o casal nem se lembra mais como se vive a dois. Momento que chega, por vezes de repente, depois dos pais viverem por anos se dedicando exclusivamente aos filhos.

Muitos casais, após receberem os filhos, perdem a configuração de casal. O papel de marido e mulher dão lugar aos papéis de pai e mãe daqueles filhos. Todo o seu tempo, planos e esforços são direcionados para a satisfação e criação dos filhos. Seus interesses e preferências são comumente deixados de lado e substituídos pelos das crianças.

Há casais que deixam de cultivar sua relação amorosa, suas relações sociais e os momentos de lazer (individuais e do casal), abrindo mão de sua satisfação pessoal para conquistarem a satisfação de seus filhos. E passam tantos anos vivendo para os filhos que, ao irem embora, o casal se sente perdido. Não sabem mais o que fazer com suas vidas e o tempo livre que passam a ter. Quais são seus gostos? O que desejam fazer ou comer?

Se conhecer novamente passa a ser um desafio grande para este casal. Toda a sua rotina de vida que modificou-se para a chegada e criação dos filhos, muda bruscamente mais uma vez. Mais um momento de adaptação e aprendizado.

Muitos casais enfrentam dificuldades sérias de retomarem a vida de casal novamente e se mantém tentando viver a vida dos filhos. Apegados a eles, cobram suas ligações, sua atenção e sua presença constante. Tem casos onde este apego é tão excessivo que por mais que o filho ligue e apareça, nunca parece ser suficiente. Com isso, correm o risco de interferir negativamente na vida do novo casal, causando desgastes e embates.

São casais que desaprenderam a se olhar, se cuidar e a tentar satisfazer seus próprios desejos. Muitos nem sabem se ainda desejam algo. Sentem como se não desejassem mais nada além da função de cuidar da alegria e satisfação de seus filhos.

Desta forma, um momento que deveria ser de retomada da vida do casal e busca por uma vida a dois mais tranquila e prazeirosa se torna uma vida angustiante, mal aproveitada e sem sentido.

 

A hora de se Aposentar:

Outro momento crítico na vida de uma pessoa é o momento em que chega a hora dela se aposentar. Depois de uma vida inteira cumprindo aquele papel profissional, sendo reconhecido como tal, chega a hora de deixar aquilo para trás.

Muitos postergam sua aposentadoria, pela necessidade de complementar a renda mensal da família. E mesmo que o corpo e a mente já não aguentem mais trabalhar, eles precisam continuar no emprego, numa espécie de tortura diária que afeta seu bem estar, bom humor e prazer de viver.

Outros, postergam por dificuldade de abrir mão daquele hábito diário e do status que o trabalho lhe dá. Quem passa a ser reconhecido como Dr./Dra.  ou mesmo quem ganha a fama de “João do Pastel” por exemplo, enfrenta grande dificuldade de abrir mão disso. Mesmo cansados e podendo ou precisando se aposentar, eles estendem o máximo que podem seu tempo de serviço.

E ao consumarem a aposentadoria, muitos são os casos de pessoas que adoecem e perdem o sentido de suas vidas. Parece que estas pessoas não conseguem desapegar do papel que cumpriram por anos e simplesmente seguir, honrando e aceitando o encerramento deste ciclo.

Casos em que a pessoa se despersonaliza totalmente passando a ser exclusivamente o profissional, totalmente identificado com o papel profissional empenhado e desqualificando o seu papel pessoal e/ou social. E quando o Doutor deixa de estar em cena, não os resta mais nada.

Isso pode vir da incapacidade destas pessoas se relacionarem. Depois de passarem uma vida inteira alimentando seu ego e investindo na área mais confortável, aonde ela sentia-se mais apta e segura, como deixar a vida profissional e retomar a vida pessoal que nunca conseguiu ser nutrida e fortalecida?

Mais uma etapa difícil e desafiadora que chega geralmente, inaugurando a fase da terceira idade. Etapa esta que influencia a vida do idoso e de toda a sua família que sofre as consequências de sua insatisfação ou inapetência.

 

Vivência de muitos Lutos:

Outro ponto difícil para os que chegam a terceira idade, é a fase onde os idosos se dão conta de que muitos de seus familiares e amigos já morreram. Se deparar com a reta final da vida, não parece ser uma coisa fácil. Para alguns, a proximidade de descendentes queridos ou amigos próximos, aliviam e distraem desta fase. Para outros, a constatação de que todos ou quase todos os entes queridos que nasceram até sua época já se foram acelera ainda mais este momento final.

                Há quem deprima e já encerre a sua vida antes mesmo que ela termine. Numa postura de reclusão e entrega. Tudo parece perder o sentido e eles param de fazer coisas que antes lhes proporcionava bem-estar e alegria e vivem por viver, dia após dia. Como que se negando a viver o resto de vida que ainda têm.

                A perda do companheiro de jornada ou companheira é uma situação muito dolorosa também. Após compartilhar uma vida inteira com alguém, fica muito difícil seguir com aquela ausência. Mesmo nos casos onde a convivência não era fácil ou casos onde um dos cônjuges estava adoecido já e necessitando de cuidados diários, a perda não é sinônimo de alívio e sim de vazio e dor. Não é difícil ver o cônjuge que permaneceu vivo definhar até morrer também. Poucos são os casos onde o cônjuge segue ileso e encontra um novo sentido para a sua vida sem ficar dia após dia ressentido pela falta de seu parceiro de jornada.

                È uma fase delicada e doída que exige o desapego de muitas coisas. Casas, coisas e pessoas que construíram suas vidas se foram. E mesmo assim, você se vê obrigado a seguir com poucas coisas significativas. Quase tudo do seu passado se desfez. E é realmente muito difícil seguir adiante assim.

 

Saúde na Terceira Idade:

Nesta fase da vida, é inevitável que apareçam diversos problemas de saúde. Além das limitações físicas naturais da idade, a maioria dos idosos precisa conviver com as dores diariamente em várias partes do corpo. Muitas patologias aparecem como reflexo, ou não, de seus hábitos alimentares ou posturais de uma vida inteira. Atividades ou funções que ele se impôs ou que exigiram dele por muitos anos e que agora apresentam resultados danosos e irreversíveis mentalmente ou fisicamente falando. Problemas nas articulações, coluna, coração, mente acelerada, ansiedade, depressão, muitas consequências que a vida dura acaba trazendo para a terceira idade.

Alguns penam por falta de consciência da consequência dos danos que serão provocados no futuro e outros por falta de opção de outro tipo de atividade de sustento. Mas todos os idosos levarão minimamente as marcas do desgaste do corpo físico e da velhice que chega após uma vida inteira de esforço e dedicação.

E o que fazer quando se alia um custo de vida muito alto, com um plano de saúde que pratica valores absurdos, versus uma aposentadoria extremamente baixa?

Na época em que o sujeito mais precisa do Plano de saúde, que muitos pagam uma vida inteira sem sequer terem tempo disponível para utilizar, vê se obrigado a dispor de valores altíssimos para se manter associado. Se por algum motivo o idoso não possuía plano de saúde e tem a necessidade ingressar em algum, provavelmente terá seu pedido negado já que as companhias de plano de saúde não aceitam novos associados com idade avançada e problemas de saúde pré-existentes.

Parece engraçado, para não dizer triste ou vergonhoso, especular que as companhias que oferecem plano de saúde, preferem pessoas com saúde que não necessitem utilizar o serviço por eles oferecido. Em sendo assim, qual seria a finalidade de um plano de saúde? Promover e prezar pela saúde dos associados, que associam-se pela necessidade de buscar ou manter uma boa saúde ou somente aceitar clientes com boa saúde para evitar despesas excessivas com os serviços prestados por eles?

Os idosos que tem a “sorte” de poder dispor de um plano de saúde, na hora que precisam de atendimento ou na hora da realização de algum exame ou tratamento sofrem inicialmente com a enorme dificuldade para agendarem um horário. E sofrem mais ainda depois, com a espera desumana e longa em antessalas cheias e desconfortáveis para a efetivação do mesmo.

Afirmo que são desumanas pois é comum vermos idosos com dificuldade de deslocamento sendo jogados para lá e para cá na tentativa de realizar um exame importante ou aguardando sua vez que nunca chega enquanto sofrem com a fome do jejum necessário para o exame ou com o constrangimento horrível de não conseguir segurar a urina após ter bebido vários copos de água e não ter sido prontamente atendido.

É muito duro ver nossos idosos passando por situações tão difíceis numa fase da vida onde eles deveriam ter um refresco, um alento, um retorno de tudo que eles construíram e significaram em sua existência. E vemos que, independente do papel que tenha cumprido ou da classe social a que pertença, seu final de vida tende a parecer injusto e difícil.

Entendo que a necessidade dos mais novos sobreviverem e darem conta de tudo que aquele idoso proporcionou a eles um dia, tira deles por vezes a capacidade de valorizar e aproveitar seus idosos por mais tempo. Muitas vezes, só quando os perdemos, nos damos conta que poderíamos ter aproveitado mais eles. Nossas crianças poderiam ter tido mais tempo junto deles para ouvir suas estórias e receber muito aprendizado. Nós os deixamos ir sem perguntar muitas coisas que podiam ter sido perguntadas. Mas nos envolvemos tanto com as responsabilidades e dificuldades da vida que tantas vezes mal podemos honrar nossos antepassados como mereciam ser honrados.

 

 

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